2 de julho de 2009

Kundun Balê - Nomes Culturais



No que consiste a identidade de uma pessoa? Nome que ela carrega? Em sua própria vivência? Na sua cultura enfim?
No que de fato se apóia o termo “resistência” para crianças e adolescentes de 6 a 21 anos? O que se espera quando se lança a idéia de dignidade pra essa faixa etária?

As questões levantadas acima parecem a priori, difíceis de serem trabalhadas, ainda mais quando se trata de crianças entre 5 e 11 anos e adolescentes entre 12 e 21. Seguindo essa idéia, a identidade de uma pessoa é o conjunto de características que a torna especial e única. A herança cultural que ela carrega em si, mesmo sem se dar conta.
É através da idéia de resgate cultural de nomes africanos e valorização do indivíduo por suas próprias características que está embasado o projeto “Bolongo: o fogo da sabedoria”, desenvolvido pelo Kundun Balê, no quilombo Paiol de Telha, desde de 2007.
O Bolongo é um ritual africano de tradição Mandinga, uma nação africana localizada na Gâmbia, o que na cultura cristã se assemelha ao batismo. O ritual na África, é feito pelo pai da criança, que lhe sopra o nome ao ouvido, logo em sua primeira noite de vida, em torno de uma fogueira, onde está reunida toda a tribo para comemorar o nascimento daquela criança. O ritual realizado no Paiol de telha, é uma alusão ao ritual africano, no quilombo o ritual consiste em cada um provar que é digno de receber seu nome, ou de mantê-lo.
Para os integrantes do grupo o nome foi dado logo de início, levando em consideração as características pessoais de cada um. “A mulher guerreira”, “o namorador”, “ A que fala demais”, todos os nomes dados segundo as línguas africanas, dentre elas o Iorubá, seja de origem Banto, Oió ou Nagô, o Mandinga, o Swahile, Achanti, Bengela, Etiopequê, Conde, Chosa, entre tantas outras variações.
A cada nome recebido, o integrante deveria através de enigmas estabelecidos pelo coordenador do grupo, provar de que realmente seria digno de receber -lo. Os enigmas na verdade, são um meio de reflexão para questões próprias, questões internas, algumas sentimentais, outras políticas. Outras tarefas dadas seriam de cunho social, para a melhoria da comunidade.
O que de fato é importante, é a valorização que cada um dá a si mesmo através do nome cultural, até mesmo alguns pais da comunidade receberam como presentes, nomes dados por seus filhos, para demonstrar o quão importantes são para eles, assim como para a comunidade. Djaya, na língua Chosa, que significa “ Mulher digna, honrada, A que fez por merecer”, Makau ”o pai que protege”, na língua Swahile, Queinyn “a guerreira que proteje seus filhos” são alguns desses exemplos.
Sem dúvida o resgate de nomes africanos, não só para as crianças, mas para toda a comunidade tem sido fato marcante. Com as visitas turísticas que frequentemente acontecem, o interesse pelos nomes só aumenta, assim como o interesse da comunidade por aprender mais e mais sobre sua raízes africanas. As línguas, a espiritualidade, as práticas, as festas, o conhecimento. Um despertar para a própria herança cultural perdida ao longo do tempo.

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